Vocabulário (I)

sábado, 30 de agosto de 2014

Comecemos pelo vocabulário, que não se desata a conversar assim do dia para a noite:

1. O universo; o mundo.


Deos.
Os astros.
O Ceo.
Um cometa.
Os elementos.
Uma estrella.
  uma estrella fixa.
  a estrella polar.
Um fluido.
Um gaz.
A lua.
  o luar.
  a lua nova.
  a lua cheia.
  o quarto crescente.
  o quarto minguante.
A materia.
A natureza.
Um planeta.
O sol.
  o nascer do sol.
  o pôr do sol.
Um solido.
A terra.
A via lactea.
1. L'univers (m.); le monde.

Dieu.
Les astres, m. pl.
Le ciel.
Une comète.
Les éléments, m. pl.
Une étoile.
  une étoile fixe.
  l'étoile polaire.
Un fluide.
Un gaz.
La lune.
  le clair de lune.
  la nouvelle lune.
  la pleine lune.
  le premier quartier.
  le dernier quartier.
La matière.
La nature.
Une planète.
Le soleil.
  le lever du soleil.
  le coucher du soleil.
Un solide.
La terre.
La voie lactée.

Ora bem, o que é que temos neste primeiro capítulo: logo a iniciar, Deus. Pimba. Deus está no começo de tudo, na origem, na criação, patati patatá, deve ter sido essa a lógica. Na mesma onda, temos também o Céu, os elementos, a matéria e a natureza. Reparem bem que, por os franceses serem um bocado armados ao pingarelho, o autor do manual introduz logo aqui umas merdices que podem muito bem ser usadas em discussões filosóficas, para impressionar o sexo oposto (ou o mesmo, estamos no séc. XXI, que diabo), ou simplesmente dar uma de cagão.

Uma escolha, a meu ver, um tanto ou quanto estranha, visto que uma pessoa quando vai interpelar pela primeira vez um(a) ça va qualquer não se vai por logo com questões metafísicas. Era só que faltava: "olá, Julien, então como tem passado? Pois, está fresquinho, está. Mas isto de uma pessoa não saber se Deus existe ou não é que manda uma pessoa abaixo".

E se for o caso de um português que acabou de chegar a França, a coisa ainda se torna mais ridícula: "então, é para onde?", diz o taxista, "olhe, não sei explicar", encavaca-se o português. "Então e agora?", "eh pá, agora, até dar-mos com o sítio, podemos ir discutindo o sentido da vida, o que é que acha?". Tudo bem que é a terra do Descartes e tal, mas porra, acho que há que haver noção das prioridades.

Ainda por cima, toda a gente sabe que os taxistas franceses não são dados ao tino. Até já fizeram quatro filmes sobre isso.
De resto, encontramos coisas bonitas para usar em poemas e/ou piropos – la está, para impressionar e para levar o(a) franciú para a cama: a lua e o luar, o nascer e o pôr do sol, e até a estrela e o cometa, para os mais ordinarões (embora em francês, esse piropo não resulte tão bem).

A ideia deste primeiro capítulo só pode ser uma: o leitor começa por envolver-se romanticamente com um nativo francófono, que irá depois auxiliá-lo no resto do manual. Porque se o Sr. Autor acha que alguém vai começar a falar francês logo pelos fluídos, estrelas fixas e vias lácteas, é porque é uma besta. 

O Que Vem a Ser Isto

Encontram-se coisas giras na Feira da Ladra. Uma das coisas giras que lá encontrei foi o Manual da Conversação Portuguez-Francez, da Garnier Frères. Na verdade, foi a minha mulher que encontrou. Eu estava a trabalhar e não fui nesse dia.

Como manual dos finais do séc. XIX/inícios do séc. XX que é, está estupidamente desactualizado e as conversações nele contidas já só fazem sentido se nos metermos num DeLorean a caminho daquela época, ou se estivermos a falar com Manuel Luís Goucha. A sério, ouviram-no falar naquele programa dos aprendizes de cozinheiros? Vão ao YouTube ver disso.

Pronto, como basicamente tudo o que está escrito em português esquisito tem piada, e como há muita malta a ir para países francófonos (incluindo amigos meus, que me hão de arranjar uma caminha para dormir, quando me der na gana ir a Paris), lembrei-me de partilhar aqui alguns excertos do manual, tentado contextualizá-los nos dias de hoje, para ajudar a referida malta a adaptar-se.